Recebi o telefonema de uma amiga dizendo que precisava conversar. Combinamos que eu iria à sua casa para passarmos a tarde juntas. Glorinha parecia sufocada quando começou a me contar a sua história.
Há uns dois anos contratou um marceneiro e mandou instalar pares de prateleiras grossas e suspensas, sem nenhuma cantoneira aparente, que correm fora a fora as paredes do seu quarto e da sala de tv. Estão repletas com seus livros e discos. Sem ter o que fazer, parou para contemplá-las e percebeu que desde que foram arrumadas, viraram objetos de decoração. Está tudo estático. Nada nelas se move, por falta de uso.
Há uns dois anos contratou um marceneiro e mandou instalar pares de prateleiras grossas e suspensas, sem nenhuma cantoneira aparente, que correm fora a fora as paredes do seu quarto e da sala de tv. Estão repletas com seus livros e discos. Sem ter o que fazer, parou para contemplá-las e percebeu que desde que foram arrumadas, viraram objetos de decoração. Está tudo estático. Nada nelas se move, por falta de uso.
- O quê te aconteceu? Aonde foram parar o prazer do manuseio dos livros e do sabor das palavras? Onde está a emoção que você sentia ao ouvir música e escutar a letra?
Glorinha, com olhar vago, me respondeu:
- Há um vazio de sentimentos que me deixa inerte. Evito me envolver com qualquer coisa para não mais sofrer com perdas. Os últimos dois anos foram duros.
- Há um vazio de sentimentos que me deixa inerte. Evito me envolver com qualquer coisa para não mais sofrer com perdas. Os últimos dois anos foram duros.
Larguei meu emprego em busca de um sonho que não vingou; perdi a nora que amava, porque se separou de meu filho; perdi minha cachorra que faleceu; a empregada que trabalhou comigo durante 15 anos se demitiu; meu marido me abandonou por outra; perdi meu pai e com ele minha referência; perdi a companhia em casa do meu filho que se casou e se mudou. Perdi dente, unha do dedão do pé, sono, dinheiro ao comprar hipnóticos, perdi a fome e peso sumindo na minha magreza, perdi músculos, a cor dos meus cabelos com o nascimento dos primeiros fios brancos, o viço da pele com o aparecimento de pequenas manchas e até a minha bunda que ficou flácida e caiu... Perdi tudo.
Em compensação, diariamente ao abrir os olhos eu ganho a chance de viver mais um dia, eu sei - concluiu com monotonia.
- Me dê uma folha de papel. Anda, Glorinha, ligeiro! Preciso de papel, é coisa urgente!
Ela me trouxe algumas folhas, colei-as com durex e escrevi com letras bem grandes:
- Me dê uma folha de papel. Anda, Glorinha, ligeiro! Preciso de papel, é coisa urgente!
Ela me trouxe algumas folhas, colei-as com durex e escrevi com letras bem grandes:
"Acorda, mulher! Avante! Saia desse berço esplêndido!"
Pendurei o cartaz de frente para a cama dela. Dei-lhe um abraço afetuoso e fui embora, deixando-a pensar com seus botões. Espero que dê certo.
16 comentários:
Olá!!
Que coisa... fui lendo lendo, já compadecido quando por fim, arrancou-me um sorriso. Muito bom!
Um beijo enorme e que jeito gostoso de escrever!
Nos encontramos no Alma!
Vinícius,
Então já deu certo, né?
Vamos batendo essa bolinha, eu lá no Alma e você aqui, ok?
muitos beijos
Olá! Obrigada por sua visita ao meu blog! Amo Quintana! isso é algo em comum entre nós! Gostei do seu blog! Estarei também por aqui energizando-me com suas canções e dizeres!! Abraço da Célia.
Puxa,GENIAL esse recadinho. Tenho certeza que ela acordou..
Escreves muiiiiito bem!.abraços tudo de bom,chica
Muito profundo esse texto. É por isso mesmo que a minha presença no seu catinho virou uns dos meus rituais diarios. Levanto pela manhã, abro a janela pra o mundo, respiro fundo e saboreio os sons, o ar e toda a beleza da Criação de Deus... Logo em seguida abro as janelas do virtual, saboreio cada texto do seu cantinho e de outros com a mesma qualidade. sigo com mais alguns rituais que acabam por me dar melhor qualidade de vida.
bem haja pra voce e seu cantinho lindo,obrigado por voce existir e nos presentiar cada dia com a beleza das suas palavras escritas,por voce ditas no navegar do virtual, mas tão reais no mundo real...
Um forte abraço... deste que te admira bastante!
Caramba! hoje eu fiz um texto sobre este bode que de quando em quando aparece por aqui. Fui lendo o texto e ficando como a Glorinha. mas o final é por aí. quem tem amigo não perde a esperança de dias melhores.
Adorei.
Um grande abraço
A amiga é sincera com a amiga. Um abraço, Yayá.
Querida, lendo um relato desse, ficamos compadecidos, mas contentes por não termos nenhum desses problemas.
Acredito que sua amiga está com depressão, um dos males do séculos.
Pela sua atenção com ela e sua frase incentivadora, acho que poderá despertar uma atitude nela, sim.
Abraços do novo amigo!
Chica e Bento,
Se unir na lamúria não daria resultado, não é mesmo?
muitos beijos
Célia,
obrigada por sua visita e por me seguir.
Volte sempre.Será bem vinda!
beijos
Henry,
Você é um amor. Sempre vendo o lado belo da vida. Glorinha precisava de um amigo assim.
Ainda bem que vem sempre me visitar.
Eu também não deixo de ler as suas postagens.
muitos beijos
Paulo e Yayá,
Amigo que somente passa a mão na cabeça não é amigo.
Obrigada por estarem sempre por aqui.
Muitos beijos
ADOREIIII!!!
Sensacional, fantástico, maravilhoso e todos os adjetivos do mundo p/elogiar o seu texto seria pouco. Parabéns! Estou encantada!
Apareça lá no meu cantinho, viu?
Beijos e fique com DEUS!
Juju,
Obrigada pelas suas palavras de incentivo. Apareça sempre. Vai ser um prazer tê-la por aqui.
beijos
Você nos hipnotizou!!! maravilhoso!!!
Edu,
Mas não foi com o hipnótico que a Glorinha toma não, né?
beijos
Postar um comentário