Eu me lembro da primeira vez que vi o mar. Viajamos umas doze horas de trem e mais umas outras duas de ônibus, até chegarmos a uma cidadezinha de pescadores. Já era bem tarde e apesar de estarmos num apartamento em frente à praia, eu me debruçava na janela e nada via. Só a escuridão e o barulho suave das ondas. Não consegui dormir naquela noite. O meu coração de criança palpitava e não conseguia controlar a ansiedade.
Mal clareou o dia já estávamos todos lá, marinheiros de primeira viagem, batendo braços, pernas, espirrando água por todos os lados. Meu pai apoiava a minha barriga com as duas mãos e tentava me ensinar a boiar. A onda vinha, eu quase me afogava e bebia água... muita água! Minutos depois a gente tentava novamente.
Sentados na praia construímos castelos, fizemos guerra de areia, enterramos um ao outro e nos divertíamos muito. Alguns vezes fomos pescar. Meu pai me ensinava a colocar a isca no anzol e a jogar a linha. Fazia de tal jeito que eu achava que estava pescando sozinha.
À tardinha, de mãos dadas, papai e eu passeávamos pela praia catando conchinhas. Ele sempre achava uma especial, mais outra que eu ainda não tinha, uma toda branquinha sem nenhum mancha, outra bem pretinha, uma rosa, outra... mais outra... O dia acabava e nós dois voltávamos para o apartamento, lavávamos tudo e na tarde seguinte íamos em busca de mais.
Tenho a lembrança de uma concha bem pequena que ele furou com uma broca fina e colocou numa correntinha para que eu a pendurasse no pescoço.
As férias estavam para terminar, então papai comprou e me deu outra bem grande para que eu ouvisse e levasse o barulho do mar comigo, quando fôssemos embora.
As férias estavam para terminar, então papai comprou e me deu outra bem grande para que eu ouvisse e levasse o barulho do mar comigo, quando fôssemos embora.
Anos mais tarde meu pai teve a felicidade de comprar uma casa na praia para veraneio. Com estradas novas a viagem tornou-se um pulo e ele queria a família reunida nas férias. E assim a história se repetia, dessa vez com meus filhos.
Meu pai adorava brincar de vovô: as mesmas aulas de natação, as brincadeiras na areia, as pescarias, o passeio para catar conchinhas...
Meu pai adorava brincar de vovô: as mesmas aulas de natação, as brincadeiras na areia, as pescarias, o passeio para catar conchinhas...
Hoje eu não tenho mais o meu pai perto de mim, mas moro em frente à praia. Quando olho para o mar e vejo aquela imensidão azul, eu sinto o abraço dele e fico em paz...
"Deve existir algo estranhamente sagrado no sal:
está em nossas lágrimas e no mar..."
(Khalil Gibran)
2 comentários:
♪°º✿
˛♫ Olá, amiga!
Lindas e doces lembranças.
Boa semana!
Cheia de alegria e muita paz.
Beijinhos.
Brasil
º°✿
✿♥ ° ·.
˛✿♪
Lindo, lindo, lindo texto!
As lembranças que nos constituem, que fazem sermos conforme nossa própria geografia, assim como mar..., quem sabe, pouco de saudades, pouco de lágrimas; mas também um canal de transporte de tudo!
Maravilhoso!
Parabéns!
PS.: Me indentifiquei com o texto também!
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