segunda-feira, 18 de julho de 2011

A história de Ana Maria



Ana Maria tem  inveja   admiração por mulher que é dona de casa. Dessa que acorda cedo, coloca a mesa farta para o café da manhã da família, que arruma a merenda, põe uniforme nas crianças e depois as leva para a escola. Volta para casa, arruma, varre, tira o pó, bota a roupa suja para lavar, passa, faz o almoço que pontualmente está na mesa com cheiro e gosto de amor.
Que à tarde borda, costura, remenda à frente da televisão. Pega o telefone e liga para a mãe, depois para uma amiga e troca receitas. Que nunca deixa de acompanhar o estudo dos filhos, lhes corrige a lição, explica, conta histórias enquanto bate um bolo.
Que espera sorridente o marido chegar do trabalho, ouve-lhe as histórias enquanto jantam, serve a sobremesa que ele mais gosta, passa um café na hora, sentam para  assistirem ao noticiário, bota as crianças para dormir e depois se arruma e se enfeita para deitar com o seu homem.
Ana Maria admira essa mulher porque ela mesma não deu conta. Não nasceu com o dom e nem foi criada para isso. Teve poucas bonecas e nenhuma amiga de infância. Não brincava de casinha. Não lhe era permitido entrar na cozinha - criança só atrapalhava. As ordens recebidas eram somente para estudar e muito. Cobravam-lhe as notas, os primeiros lugares na turma. Foi incentivada a ler muito e de tudo um pouco. Foi forçada a ser forte - praticava esportes. Não a deixaram sonhar com vestido de noiva, cerimônia na igreja enfeitada com flores e velas e nem lhe disseram para esperar pelo grande dia da lua de mel. Só falavam na liberdade e independência conseguidas através do trabalho. E que o trabalho era árduo e ela precisava ser competente, para ser bem remunerada. Ela é.
Em casa, o máximo que Ana Maria conseguiu ser foi uma administradora do lar, uma gerente dando ordens para as incontáveis empregadas e maridos de três casamentos mal resolvidos.  As empregadas iam embora e os maridos também. Sabia comandar, mas não queria mais ser comandada. Ana Maria sempre começando tudo de novo.
Hoje está só.
Comprou um livro de receitas para iniciantes. Vai tentar bater um bolo. Será que ela ainda aprende? 
Será?

5 comentários:

selma disse...

Com certez aprenderá,agora sózinha sem empregada vai ter que se virar....com certeza acredito em Ana Maria....um beijo gde...lindo texto viu....

Nathacha disse...

Tadinha da Ana Maria... Roubaram-lhe a infância, e seu marido lhe fez de AMÉLIA, de maria só o nome... Estudou tanto que seguiu a profissão que o destino impôs ... ADML (Administradora do lar), ela deve ter feito VASP (vagabundos anonimos sustentados pelos pais)COITADA, triste fim...



Estou seguindo o blog ^^

Se puder retribuir, ficarei grata!

By, Nathacha Phatcholly

Lembre-se que o seu comentário é fundamental.

Anônimo disse...

Adoooreei!
Beijos meus

Vinicius.C disse...

Que maravilhaaaaaa!

Um prazer estar aqui!

Conhecendo e adorando- se puder, venha conhecer o Alma!

Beijo

Eloah disse...

Com certeza Ana Maria conseguirá.Se é isto que ela quer, não sou eu a contestar, mas pensando bem uma comidinha pronta tem seus encantos, afinal nem sobra louça para lavar e... não somos e nem temos que ser boas em tudo.Amei o texto. Ah! hoje Amélia é coisa do passado!! Bjs Eloah