Viviam um relacionamento intenso. Pelo menos era assim que Tânia pensava. Desde o dia em que o conheceu ela não tinha pensamento para outra coisa - apenas nele. Ela trabalhava muito, tinha as suas responsabilidades e preocupações, mas ele estava sempre em primeiro lugar.
Ele era um homem muito educado, gentil, um tanto calado e extremamente preso a horários. O primeiro pedido que ela lhe fez foi que abandonasse o relógio, hora certa servia apenas para chegar ao trabalho.
Percebeu nele uma criação castradora, pois ele justificava tudo como quem quisesse se antecipar e se prevenir contra qualquer julgamento. Tânia comovia-se com isso e nada lhe perguntava, nem a hora que havia chegado e nem aonde tinha ido. Como músico, trabalhava em horários os mais diversos e isso nunca a incomodou e nem queria satisfações. Era o ofício dele. Queria que ele fosse livre para fazer sua arte.
Tânia via nele um grande talento aprisionado. Incentivou que tomasse aulas de expressão corporal, oficina de atores, canto - tudo o que pudesse ajudá-lo a se soltar mais e expressar o seu dom.
Depois se ocupou do seu visual, montou um novo guarda-roupa com um estilo 'clean' mais solto e leve, nada que lhe apertasse para que se movimentasse à vontade, tanto no palco quanto fora dele, e que revelasse também o seu estilo musical.
Entregou a chave do seu carro, para que não dependesse mais de táxis ou ônibus, assim não teria que deixar seu equipamento onde havia tocado e nem sair pelas ruas carregando seu violão nas costas.
Gostava de chegar aos barzinhos separada dele e se sentava como uma cliente qualquer, para que pudesse observar a reação do público e dos donos do local.
Tânia também organizava grupos para assisti-lo, mandou fazer camisetas para um fã-clube que o acompanhava agora. Tirava fotos, documentava tudo.
Tânia também organizava grupos para assisti-lo, mandou fazer camisetas para um fã-clube que o acompanhava agora. Tirava fotos, documentava tudo.
Começou a acompanhar sua vida financeira orientando, estimulando a poupar para adquirir novos instrumentos e equipamentos. Mandaram reformar a mesa de som, compraram novas caixas acústicas e retorno, microfones, pedestal, mais um violão, cases, luminária, enfim tudo o que pudesse melhorar sua apresentação. Podiam encarar prestações para as compras mais caras, o salário de Tânia garantia tudo.
Como não precisava mais alugar equipamento, havia facilidade também para se apresentar em outras cidades próximas. A carreira dele estava num crescente.
Já não cabia tudo no carro dela, resolveram comprar um furgão. Como ele não tinha renda comprovada, financiar totalmente o carro seria difícil. Tânia encorajou o negócio, entrou com a metade do valor e o restante foi dividido em prestações. Ele não precisava se preocupar, caso não conseguisse pagar alguma prestação o salário dela garantiria mais uma vez.
Foram surgindo muitas oportunidades de se integrar a projetos importantes, mas para isso ele precisava de uma banda para acompanhá-lo. A carreira solo já não satisfazia mais a ela. "Do que você precisa? Estúdio para ensaiar? Vamos fechar um pacote por mês com quantas horas e dias você precisar, pode escolher. Cachê dos músicos? Nenhum problema, dá para encarar." Novamente Tânia incentivou e apoiou.
E fez mais - reuniu a família e lançou a ideia: vamos fazer toda a produção do show. Matriculou sua irmã e um sobrinho num curso de produção musical e foram em frente.
O primeiro show com a banda foi um sucesso. Tânia, nos bastidores vibrava a cada música. Emocionou-se com a apresentação do artista. Sentiu orgulho do seu homem.
Como para Tãnia o amor é voo, queria que ele fosse cada mais livre para alçar voos maiores.
Percorreram Minas, Rio, São Paulo e Bahia. O custo era muito alto, mas Tânia não se importava, considerava o gasto como um investimento. Em todos os lugares ela ia junto, mas a estrela era ele. Tânia sempre no seu lugar - anônima.
Ela resolveu largar seu emprego. Nunca fora o que realmente ela gostava. Permaneceu nele durante longos anos por comodismo, ótimo salário, carreira consolidada. Estava na hora de chutar o balde. Fez um acordo e com a bolada que recebeu decidiu realizar um sonho dele - morar numa casinha na praia. Procurava uma casa numa ilha, com a ideia de montar uma pousada-estúdio, onde os músicos pudessem se hospedar e ficar isolados numa praia paradisíaca só por conta da inspiração. Ele a acompanhou cheio de senões, vendo dificuldade em tudo. Pessimista, ele achava que não ia dar certo. Sem a motivação e o conhecimento dele para montar o negócio, Tânia desistiu.
Quando ele já estava compondo com novos parceiros e começando a aparecer em programas de TV... de repente... t r a v o u.
Começou a ficar impaciente, indolente e cada dia mais calado... A sua mudez e o olhar sem brilho foram afastando um do outro. Não funcionavam mais como um casal. Problemas foram surgindo e não se empenharam em resolvê-los. Tudo que é deixado de lado, um dia acaba.
De repente, o castelo de cartas desmoronou. Ele foi embora com o furgão e levou dentro dele todos os sonhos de Tânia.
Ela precisava de uma explicação. Por quê o abandono?
Ele, com simplicidade respondeu:
- Você nunca andou de mãos dadas comigo...
Talvez, se ele tivesse cantado para a sua mecenas, pelo menos uma única vez, a música do Vinícius, tudo poderia ter sido diferente...
Já não cabia tudo no carro dela, resolveram comprar um furgão. Como ele não tinha renda comprovada, financiar totalmente o carro seria difícil. Tânia encorajou o negócio, entrou com a metade do valor e o restante foi dividido em prestações. Ele não precisava se preocupar, caso não conseguisse pagar alguma prestação o salário dela garantiria mais uma vez.
Foram surgindo muitas oportunidades de se integrar a projetos importantes, mas para isso ele precisava de uma banda para acompanhá-lo. A carreira solo já não satisfazia mais a ela. "Do que você precisa? Estúdio para ensaiar? Vamos fechar um pacote por mês com quantas horas e dias você precisar, pode escolher. Cachê dos músicos? Nenhum problema, dá para encarar." Novamente Tânia incentivou e apoiou.
E fez mais - reuniu a família e lançou a ideia: vamos fazer toda a produção do show. Matriculou sua irmã e um sobrinho num curso de produção musical e foram em frente.
O primeiro show com a banda foi um sucesso. Tânia, nos bastidores vibrava a cada música. Emocionou-se com a apresentação do artista. Sentiu orgulho do seu homem.
Como para Tãnia o amor é voo, queria que ele fosse cada mais livre para alçar voos maiores.
Percorreram Minas, Rio, São Paulo e Bahia. O custo era muito alto, mas Tânia não se importava, considerava o gasto como um investimento. Em todos os lugares ela ia junto, mas a estrela era ele. Tânia sempre no seu lugar - anônima.
Ela resolveu largar seu emprego. Nunca fora o que realmente ela gostava. Permaneceu nele durante longos anos por comodismo, ótimo salário, carreira consolidada. Estava na hora de chutar o balde. Fez um acordo e com a bolada que recebeu decidiu realizar um sonho dele - morar numa casinha na praia. Procurava uma casa numa ilha, com a ideia de montar uma pousada-estúdio, onde os músicos pudessem se hospedar e ficar isolados numa praia paradisíaca só por conta da inspiração. Ele a acompanhou cheio de senões, vendo dificuldade em tudo. Pessimista, ele achava que não ia dar certo. Sem a motivação e o conhecimento dele para montar o negócio, Tânia desistiu.
Quando ele já estava compondo com novos parceiros e começando a aparecer em programas de TV... de repente... t r a v o u.
Começou a ficar impaciente, indolente e cada dia mais calado... A sua mudez e o olhar sem brilho foram afastando um do outro. Não funcionavam mais como um casal. Problemas foram surgindo e não se empenharam em resolvê-los. Tudo que é deixado de lado, um dia acaba.
De repente, o castelo de cartas desmoronou. Ele foi embora com o furgão e levou dentro dele todos os sonhos de Tânia.
Ela precisava de uma explicação. Por quê o abandono?
Ele, com simplicidade respondeu:
- Você nunca andou de mãos dadas comigo...
Talvez, se ele tivesse cantado para a sua mecenas, pelo menos uma única vez, a música do Vinícius, tudo poderia ter sido diferente...
6 comentários:
Hoje ta brabo. so to no choro e lendo isso....
Que pena!
Mas o amor é assim. Acontece pra um mas pra outro é simplesmente amizade.
com carinho Monica
Como eu digo, nem sempre o bastante é o suficiente.Talvez porque nem sempre nossos sonhos e nossos voos são os mesmos do outro.Tua história dá o que refletir e muito.Gostei, gostei.És uma ótima contadora de histórias.Parabéns! Bjs querida e um bom fim de semana.Eloah
Edu, meu lindo...SEM palavras.
Moniquinha,
Obrigada querida, beijos pra você.
Eloah, minha amiga
É justamente isso. A gente vive um sonho para os outros, que talvez nem seja o sonho deles. E acaba que, po vezes, deixamos os nossos sonhos de lado.
beijos
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