sábado, 15 de outubro de 2011

Filha de índios


Eu tenho dificuldade em fazer carinho e demonstrar afeto. Fui criada sem ouvir um "eu te amo", um elogio, sem receber abraços e incentivos. Todas as minhas conquistas não eram valorizadas - eram obrigação. 
Já adulta,  minha mãe comentou comigo sobre  uma amiga que dissera nunca ter tido o orgulho de  um filho estudioso, que ganhasse medalhas no colégio e que a invejava por isso. Perguntou-me:
- Minha filha, quer dizer que aquelas medalhas que você recebia todo ano eram de verdade? Era mérito mesmo? Eu achava que era invenção das freiras para agradar aos pais...
Não fiz nenhum comentário, achei que não valia a pena. Apenas sorri, meio de lado.
Precisei sair de casa, ganhar o mundo, conviver com outras pessoas, para entender que eu havia nascido em uma família de "braços curtos". Apesar de sermos longilíneos e bastante altos, a maneira que eu encontrei para entender a falta de abraços foi criando essa ilusão dos braços curtos.
Achei também uma outra explicação para essa falta de afeto familiar, ao  ler uma matéria  publicada no site Uol - http://pessoas.hsw.uol.com.br/beijo1.htm,  que entre outras coisas fala sobre o beijo entre os índios no Brasil.
 "...Os casais indígenas não andam de mãos dadas, nem abraçados, nem se beijam. O afeto é demonstrado de outras maneiras. Nos índios Krahó, a mulher pinta o corpo do marido de urucum e carvão, tira-lhe os piolhos do cabelo, tira-lhe os cílios e as sobrancelhas ..." 
Descrevendo fisicamente a minha família, tanto do lado materno quando do paterno, temos os cabelos muito lisos, finos e ralos, pouco pelo no corpo, um tom moreno-claro-amarelado de pele e olhos amendoados. Toda a ascendência nasceu na mesma região e desconhecemos, pelo menos nas últimas 5 gerações, a existência de europeus e negros.
Como índio de cidade grande  não pinta corpo de urucum, não tem piolho e nem tira os cílios e as sobrancelhas, não sabe como demostrar seu afeto.
Não tenho dúvidas: sou filha de índios! 

9 comentários:

BlueShell disse...

Oh, querida, teu texto me doeu...a mim que tive uma infância tão feliz, tão cheia de todas as manifestações de carinho...não por abraço contantes, nem bejos, mas por palavras, por acções.
Mur abraço hoje é só para ti.

BShell

CEM PALAVRAS disse...

Blue,
Sinergia existe. A minha postagem de hoje se une com a sua, através do que foi escrito e dos nossos comentários.
muitos beijos

Severa Cabral(escritora) disse...

Bom dia minha querida amiga!
tenhe poucos dias que fui entrevistada no ping pong da Emiliana onde tive oportunidade de falar de mim,tanto na entrevista como nos comentários que deixei lá.Então te peço para fazer uma visitinha sem compromisso,então meu comentário vc vai ler por lá,ok!
http://historiasdeemilia.blogspot.com

Hoje estou no blog CHAZINHO DA TARDE,
http://selmaris.blogspot.com/
sendo entrevistada falando de FOLHAS DE OUTONO.Da qual convido para dar uma passadinha sem compromisso para ler mais sobre mim,kkkkkkkkkkk,estou querendo muito de vc né!Mas amigo é assim ,queremos sempre por pertinho,acarinhando e dando amor tbm,não achas,e se possivel comentando,pois assim que vive o blogueiro,mesmo eles dizendo que não liga em receber comentários...acho isso uma balela.Eu amo os comentários que recebo,se pudesse retirava da net e guardava numa caixinha de chave para nunca perder,kkkkkkkk,eu sou assim querida e vc para ser minha amiga vai ter que concordar,kkkkkk.
bjs minha flor para aquecer teu dia!

Célia disse...

Lendo o que você expôs... partilho também do seu desafeto! Não tive beijos, colos, abraços... mas fui cuidada, orientada, castigada e muito... apanhei pra caramba, pois era muito arteira... mas sobrevivi. Fui fazer minha vida profissional e afetiva longe de casa. Realizei-me. Marido, filho, amigos amorosíssimos. Assim pude externar meus sentimentos, até porque sou romântica na essência. Com inteligência, conseguimos contornar os obstáculos da vida. Vejo-os como essenciais para o nosso crescimento. Abraço da Célia.

Paulo Francisco disse...

Mas você possivelmente tem braços maiores, né?
Um beijo grnde

CEM PALAVRAS disse...

Severa, minha amiga
É claro que eu já te visitei e postei um comentário.
beijos

CEM PALAVRAS disse...

Célia,
o que acontecia de pior para mim é que eu queria manifestar o meu afeto mas era tolhida, diziam que era bobagem, coisa de gente fraca ou de quem via muita novela...
Por isso tenho dificuldade ainda hoje.
Mas sempre é tempo de aprender, tenho me esforçado bastante.
muitos beijos

CEM PALAVRAS disse...

Paulo,
meus braços já cresceram, mas quero-os enormes para compensar o tempo perdido.
já passei pelo seu blog hoje e li maresia. lindo!
beijos

Juliana disse...

Apesar da falta de abraços, seu texto soou muito sensível. Acredito que você foi "alongando seus braços" ao longo da vida!