terça-feira, 26 de julho de 2011

A outra


Tem gente que quando sofre uma perda chora muito, faz escândalo, sente revolta. Outras pessoas se lastimam, se culpam, sentem autopiedade. Umas poucas ficam catatônicas. Clarice ficou assim, quase morta. Seu organismo funcionava normalmente, mas a sua mente estava vazia. Ela  se arrastava pela casa como um zumbi, comia quando lhe davam na mão, só tomava banho depois de muito insistirem. Passava a maior parte do dia dormindo.
Um dia, ninguém sabe como e nem porquê, Clarice acordou. Sentiu fome, banhou-se, olhou-se no espelho e percebeu que estava muito magra, nada mais lhe servia. Precisava renovar o guarda roupa, cortar os cabelos, fazer as unhas, ficar pronta para o mundo. Voltou a ficar bonita.
Como um imã, uma semana depois recebe um primeiro contato. O início da conversa foi meio morna, mas depois de alguns minutos já se falavam como se nada tivesse acontecido.
Contaram da saudade, da vontade de um estar com o outro, da necessidade da presença física, do tocar, de se amar...
Combinaram um único encontro, seria o da despedida que não tiveram. Uma despedida de corpos, sem rolar sentimento - ele disse. Ela pediu que eles não conversassem sobre nada que não fosse sobre eles. 
Encontraram-se secretamente e não resistiram em marcar um novo encontro. Da segunda vez foi tudo muito rápido, só mesmo para matar o desejo. Um mês depois houve uma terceira vez. Estavam tão à vontade como nunca estiveram antes. Fizeram loucuras e já começaram a pensar em outras tantas. Passaram a se comunicar sempre pelo msn e fizeram uma lista de fantasias a serem realizadas. Dois meses depois encontraram-se pela quarta vez. Show!
Clarice já não se reconhece mais. Por ele, está disposta a tudo e com ele quer sempre mais. Está feliz por  ver os olhos dele brilharem outra vez, por sentir o desejo que também o consome, por saber que ele gosta de estar com ela, de conversar e rir. Eles se divertem muito. 
Mas ela não pode tê-lo na hora que quiser.
Ela que já teve tantas mulheres atravessando o seu caminho, pela primeira vez atravessa o de uma outra que um dia atropelou o seu. 
Complicado, não é? 

Um comentário:

AC disse...

Em crescendo, texto bem "tecido"...

Beijo :)