segunda-feira, 4 de julho de 2011

Preto no branco


Para mim é tudo preto no branco. Eu não gosto de meias palavras, não gosto de hipocrisia e me enoja o preconceito. Qualquer tipo de preconceito: racial, idade, gênero, social, cultural e por aí vai.
Fui criada numa família cheia de regras de conduta, onde criança não participava de conversa de adultos. As pessoas conversavam em códigos familiares, ninguém que a ela não pertencesse não entendia nada. Todas as frases tinham duplo sentido, aquilo que se dizia e o que queria dizer.
Fui descobrir o que era menstruação aos 13 anos, quando pensei que o sangramento era de algum corte. Falar sobre sexo, nem pensar. Sobre diferenças, ai,ai,ai.
Para se tornar amiga de uma pessoa eu tinha que responder à tradicional pergunta "é filho de quem?"
Frequentava dois clubes que os sócios eram selecionados pelo bairro onde residiam, profissão e foto. Isso mesmo! Se a foto não condizia com uma das exigências dos clubes - somente brancos - a proposta era reprovada.
Conhecia um garoto mulato, filho adotivo de uma família abastada. A papelada estava toda encaminhada e  aprovada, a única pendência era a foto do filho do casal proponente. Ao recebê-la, o clube inventou uma desculpa e recusou a proposta.
Durante todo o meu período escolar, nunca tive colegas negros.
Estudava em um colégio de freiras avançadas que incentivavam muito a leitura, tanto dos clássicos como a dos escritores modernos. O colégio empregava  presidiários em regime semiaberto e as freiras trabalhavam em ações beneficentes tanto na penitenciária quanto em bairros de baixo poder aquisitivo e convidavam as alunas que quisessem ir. Com elas eu aprendi muito e através dessas ações pude conhecer o outro lado da moeda. Ajudava em creches, visitava os presos, participava de um encontro de jovens de uma igreja católica de periferia onde havia debates sobre temas de interesse dos adolescentes, havia grupos musicais, teatro, etc.
Foi nesse grupo de jovens o meu primeiro contato com negros, além das pessoas que trabalhavam como domésticas em minha casa.
Confesso da surpresa que eu tive na época de os verem como iguais. Tenho vergonha de contar isso, mas o termo "neguinho", "mulatinho" eram comumente usados pejorativamente em minha casa e eu sempre sem entender o porquê.
Conviver com esses jovens da periferia, no início de minha adolescência, abriu um novo mundo para mim.
Apesar de jovem eu entendia que tudo o que me fora ensinado em casa não era verdadeiro, comecei a contestar e a ser tachada de "esquisita".
Eu aprendi, por conta própria, a gostar das pessoas pelo o que elas são, por sua essência. E isso me fascinava. Por isso até hoje sou perguntadeira, gosto de conhecer histórias de vida, me lambuzo com elas e vou aprendendo a ser melhor.
Por não fazer diferença das pessoas, eu me tornei a "diferente" em minha família e sofro rejeição. Sofrer não é a palavra correta, pois eu levo isso com bom humor.
O que eu sofro mesmo é ser discriminada por idade. Somente os jovens podem amar? A diferença de idade importa tanto numa relação de amor?
Se para mim não importa se é branco ou negro, católico ou evangélico, autônomo ou servidor público, formado na faculdade ou na vida, rico ou pobre, por quê a minha idade faz diferença?
Por quê alguém pode sentir vergonha de amar alguém mais velho?
Eu preciso descobrir essa resposta. Eu gosto de tudo preto no branco.

Um comentário:

Edu O. disse...

Para mim é uma atitude irracional, o preconceito. A pessoa se pensar direito, se quiser, vê que não faz nenhum sentido. Me enraiveço com isso, porque chega a doer.