sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Sinal de alerta


Conheceram-se por acaso. Ela apenas acompanhava uma amiga que saia pela primeira vez com um conhecido, quando deram carona ao rapaz. Muito falante, foi logo dando a ideia: me deixem em casa para eu trocar de roupa, mais tarde eu vou me encontrar com vocês. Era extremamente vaidoso. Só usava roupas da marca italiana Dolce & Gabbana e perfume Dune de Christian Dior.
Chegou à boite com uma louraça, mas nem a apresentou. Parecia que era apenas um ornamento que levara. Passou a noite toda puxando conversando com Joyce, enquanto o casal de amigos engatava um romance. 
No dia seguinte o rapaz aparece no trabalho de Joyce com alguma desculpa para ser atendido por ela.  No meio da semana envia um buquê de flores com um cartão: "para a mulher que me impressionou muito".
No final de semana combinaram de sair juntos - os quatro. De repente ele diz à Joyce que estava apaixonado por ela, mas que existia uma pessoa. Sem entender direito, Joyce brincou dizendo que não era ciumenta.
A partir daí passaram a se encontrar sempre. Ele combinou com Joyce que ela sempre almoçaria no restaurante dele, que ficava perto do seu trabalho. Ela precisava engordar  uns quilinhos e ele iria cuidar dela. Havia uma mocinha que atendia os pedidos e ajudava a servir. Era sempre amável com Joyce e começaram a conversar. Em um desses papos, Joyce descobriu que ela a 'esposa' do Val, o dono do restaurante e seu recém namorado. 
Chamou Val para conversar e terminar o relacionamento, mas ele foi convincente. "Não existe mais nada entre nós. Ela está aqui apenas porque fui eu que a tirei de casa e tenho que levá-la e entregá-la aos pais novamente". A mocinha tinha 19 anos e desde os 16 ele a trouxera do interior para morarem juntos, a fim de assumir sua responsabilidade como seu 'devedor'.
Um dia, ele apareceu com o rosto machucado e o punho inchado. Sua explicação foi que a mocinha, inconformada por separar-se dele e ter que ir embora, tentou quebrar uma cadeira em sua cabeça. Daí os hematomas. Mas disse que estava tudo resolvido.
Era extremamente sedutor. Enchia Joyce de presentes românticos, cartõezinhos, ursinhos, perfumes caros. Preocupava-se com sua aparência, levava-a para fazer limpeza de pele, salões de beleza. Fazia questão de vê-la sempre produzida. Quando dormiam juntos levava café na cama em bandeja impecavelmente arrumada e enfeitada com flores. Ela se deixou levar pela sedução.
Algum tempo depois, chegou agoniado pedindo o carro de Joyce emprestado porque precisava levar o pai para a emergência de um hospital, o dele estava na oficina para revisão. Sumiu três dias. Joyce, preocupada, ligava sempre e o celular só caía na caixa de mensagens. Quando apareceu, trazia um grande buquê de flores e nenhuma notícia do estado do pai. Nem explicações.
Uma vez, ele tinha combinado com Joyce de passar o fim de semana fora. Como estava demorando muito, ela resolveu adiantar e ir para a casa dele encontrá-lo. Chegando lá viu uma turma pronta para sair com ele, inclusive a 'esposa'.  Joyce tentou arrancar o carro para não ser vista, mas não adiantou. Ele fez sinal para ela parar e pela janela pediu que tivesse calma, fosse para casa que mais tarde ele passaria por lá e explicaria tudo.
Apareceu 2 dias depois. Quando Joyce abriu a porta, ele de violão em punho cantava canções românticas. A explicação foi que a mocinha tinha voltado com umas amigas para buscar coisas que tinha esquecido em sua casa. Joyce cedeu às canções.
Em outra ocasião disse a Joyce que não poderia sair  porque estava bem mal, com a garganta inflamada. Sua voz era irreconhecível ao telefone. Ela foi a um barzinho com duas amigas e coincidentemente ele estava lá, em uma mesa rodeado de mulheres. E ainda fez cena de ciúme:  - O quê Joyce fazia ali? Ela o estava seguindo?
Dessa vez ela não engoliu. Disse-lhe que era a gota d´água e que não queria mais aquele relacionamento de falsidade. Ele prometeu mudar, disse que estava arrependido e que a amava de verdade. Joyce não se convenceu. Ligava para ela frequentemente e não era atendido.
Algum tempo se passou quando ele, completamente modificado, pediu para conversarem. Contou que quando adolescente era frequentador da igreja batista, onde aprendera a tocar violão para acompanhar os cultos. Tinha voltado a frequentá-la e estava dirigindo um grupo  de jovens. Havia se transformado. Usava camisa de manga comprida e calça social baratas. Falava escolhendo as palavras e em cada frase fazia uma citação bíblica. Porém, aos poucos foi se soltando, voltando a ser o que era. Ninguém segura um personagem por muito tempo.
Foram a uma festa de largo, como amigos. Estavam se divertindo, tudo corria bem até o momento em que um homem desconhecido passou tão perto de Joyce que os ombros se encostaram. Val começou uma cena de ciúme, queria bater no homem, gritava palavras ofensivas para ela. Joyce correu até um palanque policial próximo e Val foi atrás. Naquele lugar ela ficou protegida e ele se acalmou. Resolveram ir embora e dentro do carro começou a briga novamente. Os olhos dele pareciam duas bolas de fogo, seus braços agitavam-se para alcançá-la, mas ela conseguia se esquivar. Não deixou que ela entrasse em casa sozinha, forçando a porta. Ele foi diretamente para a cozinha e depois atrás de Joyce. Ele a derrubou ao chão e a imobilizou com as suas pernas. Dominada pela força, ela não podia fazer mais nada. O medo de morrer já tomava conta dela.
Val esbravejava, cuspia, batia em seu rosto com uma das mãos e com a outra empunhava uma faca. Sem saber como, quando viu a faca sendo direcionada ao seu peito, Joyce gritou repetidas vezes: VADE RETRO SATANÁS!
Inexplicavelmente, Val parou com a mão no ar e começou a respirar profundamente. Jogou o corpo para o lado, saindo de cima de Joyce, libertando-a. Aos poucos foi se acalmando e chorando muito adormeceu. Joyce aproveitou do seu sono e tremendo foi atrás de ajuda. Procurou a família dele e pediu que o retirassem de sua casa imediatamente e que ninguém a procurasse mais ou prestaria queixa na polícia.
Joyce compreendeu que desde o princípio de sua história o sinal de alerta havia piscado e que tudo isso aconteceu porque ela não tinha percebido.   

7 comentários:

Mery disse...

Oi, boa tarde, quase noite.
Difícil comentar esse episódio, eu não consigo imaginar essa cena,porque com uma frase só, o tal sujeito que estava com uma faca para matá-la, de repente...caiu(?)
Juro que não acredito nessa força estranha, é quase um exorcismo,não , não sei,"a força da mente pode tanto", mas...fiquei confusa demais.
E fiquei com medo também, às vezes estamos ao lado do inimigo e nem percebemos.
Ótimo fim de semana, beijo.
Mery*.

José disse...

Olá Cem Palavras!
Foi preciso bem mais de cem palavras para a Joyce, perceber que o homem não valia nada, embora soubesse cantar bem, e ia fazendo a sua cantata de vez enquanto, porque será que gajos assim desse tipo têm sempre montes de mulheres à sua volta?
Estás certa com o que escreves-te no meu blog.

Bom fim de semana,
um beijinho,
José.

Célia disse...

Como tem mulher cega, hein? Seu conto mostra bem isso... deixar-se levar por aparências... Alto lá!! Antes só que mal acompanhada...
[ ] Célia.

Artes e escritas disse...

Cada causo de assustar! Um abraço, Yayá.

CEM PALAVRAS disse...

Mery,
Realmente é difícil acreditar, mas essa história é totalmente verídica.
Contém bem mais detalhes, que eu preferi omitir para que não ficasse pesada.
beijos

CEM PALAVRAS disse...

José,
às vezes, pela carência ou pelo encantamento as mulheres se deixam levar e não enxergam os sinais.
Adoro quando você me visita e deixa comentários e também adoro te visitar.
muitos beijos

CEM PALAVRAS disse...

Célia e Yayá,
Como eu disse em resposta ao comentário da Mery, essa história é verídica. O cara além da boa aparência, tinha bom papo, sexo ótimo e a enchia de atenções. Tinha que ter alguma coisa de errado, não é mesmo?
A vítima até hoje não se recuperou totalmente do trauma.
muitos beijos