segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Nem Saci, nem Halloween


Lenda: Existiam num reino dois pequenos príncipes gêmeos que traziam sorte a todos. Os problemas mais difíceis eram resolvidos por eles; em troca, pediam doces balas e brinquedos. Esses meninos faziam muitas traquinagens e, um dia, brincando próximos a uma cachoeira, um deles caiu no rio e morreu afogado. Todos do reino ficaram muito tristes pela morte do príncipe. O gêmeo que sobreviveu não tinha mais vontade de comer e vivia chorando de saudades do seu irmão, pedia sempre a Orumilá* que o levasse para perto do irmão. Sensibilizado pelo pedido, Orumilá* resolveu levá-lo para se encontrar com o irmão no céu, deixando na terra duas imagens de barro. Desde então, todos que precisam de ajuda deixam oferendas aos pés dessas imagens para ter seus pedidos atendidos.

*Orumilá é o senhor dos destinos, é quem rege o plano onírico (sonhos), é aquele que tudo sabe e tudo vê em todos os mundos. Ele sabe tudo sobre o passado, o presente e o futuro de todos habitantes da Terra e do Céu. 

História: São Cosme e São Damião são santos católicos com grande receptividade entre as camadas afro-brasileiras do Recôncavo Baiano. Nascidos na Arábia do século III, de família nobre e cristã, os irmãos gêmeos estudaram medicina na Síria e exerciam a profissão gratuitamente. Acusados de feitiçaria, por realizarem milagres, foram jogados de um despenhadeiro – Assim conta a história.

Versão:  Ouve-se que tentaram matá-los de várias formas, mas não conseguiram. Por fim foram degolados. Entre seus milagres estão a cura e a materialização (após a morte) para ajudar crianças vítimas de violência. 

Religião: Apesar do catolicismo oficial venerar a figura de Cosme e Damião como santos adultos e que dedicaram a vida a praticar a medicina caridosa, os mesmos santos “correspondem” a entidades infantis nos cultos afro – brasileiros, e é justamente dessa maneira que Cosme e Damião são venerados pela maior parte de seus devotos: os santos meninos. 

Comemoração: No Rio de Janeiro  comemora-se com as crianças que lotam as ruas em busca dos agrados doces e brinquedos. Na Bahia, as pessoas comemoram oferendo caruru, vatapá e pipoca para a vizinhança. A criançada também se espalha pelas ruas a pedir balas e doces.
 
Tradição:                 No candomblé Cosme e Damião são filhos gêmeos de Xangô e Iansã.     Os santos gêmeos possuem muitos simpatizantes e devotos, estes que todo ano fazem caruru para eles, no dia 27 de setembro, chamado de “Caruru dos sete meninos” que representam os sete irmãos (Cosme, Damião, Dou, Alabá, Crispim, Crispiniano e Talabi).  Os primeiros a serem servidos são os donos da festa: São Cosme e São Damião. As oferendas são precisamente colocadas no altar decorado para a ocasião.  A tradição manda que se prepare uma roda de sete meninos. Geralmente é colocada uma toalha de mesa no chão e as crianças se sentam ao redor e comem em pequenos pratinhos de barro, ou em um único grande prato como uma bacia. Não usam talheres, usam as mãos. Ao final eles levantam-se e  cantam a música de Cosminho juntos com os outros convidados da festa. 
 “... São Cosme mandou fazer 
      Duas camisinha azul 
      No dia da festa dele 
      São Cosme quer Caruru..." 
                                Salve a riqueza da nossa cultura popular!
       Cantigas de São Cosme e Damião (domínio público) - Mariene de Castro


Curiosidade: são comumente chamados de "São Cosme e Damião", ao invés de São Cosme e São Damião

Fonte: http://www.culturabaiana.com.br/ por Rosilda Oliveira 

6 comentários:

Paulo Francisco disse...

Muito bom este seu post. A cultura popular e a religiosidade num texto belíssimo.
Parabéns.
Um beijo grande

Célia disse...

Ótimo a sua valorização do que é nossa "cultura regional e popular que dispensa buscarmos em outros países datas para comemorarmos!
Abraço, Célia.

Unknown disse...

Eu penso que novamente esta venha da África, que sejam orixás do candomblé ou alguma outra religião africana, estou errado?
É que lembro que estudei nas primeiras séries escolares que os escravos eram proibidos de seguir suas crenças, nisto, inventaram um esquema de ligar cada orixá a um santo da igreja católica para "despistar". Tanto que muitos vêem Nossa Senhora Aparecida como a Iemanjá e não são a mesma pessoa.

CEM PALAVRAS disse...

Paulo e Célia,
Sou fascinada pela cultura popular, que, muitas vezes, é transmitida pela história oral de pai para filho.
O Brasil, pelo seu tamanho gigante, pela forma como se deu a sua colonização que gerou um povo mestiço e, posteriormente o acolhimento de imigrantes, se tornou um grande caldeirão onde se misturou esses diversos temperos, o que faz da nossa cultura popular ser tão diversificada e rica.
muitos beijos

CEM PALAVRAS disse...

Christian,
Eu acredito que a beleza do Brasil está justamente nessa convergência de culturas diferentes, que aqui se mesclam e se renovam. Um pouquinho dali mais um pouquinho de lá, junta tudo, bate num liquidificador e resulta na nossa cultura popular.
Por isso eu acho que o brasileiro é um povo alegre, cativante e que recebe bem os turistas. Porque todos nós temos um pouco que veio de cada pedacinho do mundo. Essa é a nossa riqueza.
bjs

Artes e escritas disse...

Um texto didático, agora sei mais sobre a lenda deles e o fervor das orações. Um abraço, Yayá.